Se ao ler o título desse artigo você ficar em dúvida sobre o que são as birras da infância, basta pensar na seguinte cena: a criança quer algo que você não pode dar.
Então ela se joga no chão aos prantos, grita, implora, se debate de tal forma que você teme ser acusado por quem passa de estar violentando um menor, apesar de ter apenas pronunciado um suave “assim não!”.
Agora que você lembrou, deve concordar que elas são chatas, difíceis de lidar, inoportunas e às vezes, quase insuportáveis. Mas acredite, as birras da infância têm solução e, mais do que isso, em muitos casos são necessárias. Vamos explicar!
O que são as birras da Infância?
Em geral chamamos de birras todos os comportamentos de teimosia, irritação, implicâncias e aborrecimentos das crianças. Mas pedagogicamente falando, precisamos acrescentar algo mais: nas birras da infância, esses comportamentos negativos não têm um motivo verdadeiro para acontecer.
Isso mesmo, as birras são reações vazias de conteúdo e, nesses casos, as crianças reagem negativamente por maus hábitos, porque não sabem se comunicar adequadamente, ou porque necessitam de limites.
Assim, nesses casos, você pode procurar em todo lugar os motivos para as crises de choro e teimosia, mas não irá encontrar! São comportamentos que carecem de causas mais profundas.
Como lidar com as birras da infância?
O primeiro passo, portanto, para lidar com as birras da infância é identificar se realmente são birras. Nessas situações devemos ter em mente algumas coisas básicas, tais como:
– Não queira entender o porquê da birra. Não há um porquê claro!
– As birras da infância são alimentadas pelo conteúdo emocional que os adultos nelas depositam. A expressão popular resume essa recomendação melhor do que tudo: não dê corda! Quanto mais atenção a birra recebe, mais forte ela fica!
– Quando a criança estiver com birra, demonstre tranquilidade e despreocupação. Irritação e angústia são alimentos para a birra crescer.
– Estabeleça limites. Eles são fundamentais para cessar as birras.
As queixas da criança que não são birras
Falamos anteriormente sobre as verdadeiras birras. Mas há outra questão fundamental nesse tema: as reclamações verdadeiras que os adultos erroneamente pensam que são apenas birras!
Como assim?
Dissemos que as birras reais não têm motivo claro. Portanto, quando há motivo, estamos falando de conflitos, algo bastante distinto das birras.
Isso significa que muitas vezes as crianças choram, ficam aborrecidas, implicantes e teimosas, porque os adultos cometeram erros, foram agressivos ou cometeram injustiças com elas.
Como as crianças pequenas não sabem ainda se expressar com clareza e precisão, demonstrarão sua discordância, seus protestos, e acima de tudo as suas dores, com comportamentos negativos.
Nesses casos precisamos saber tratar dos conflitos adequadamente.
Como lidar com os conflitos da infância?
Em primeiro lugar, observe a criança com atenção.
Quando se tratam de birras da infância, o choro cessa em segundos, na maioria das vezes nem aparecem lágrimas, e se na “hora H” surge alguma coisa interessante para ela, a criança rapidamente esquece que estava chorando e muda de um segundo para o outro seu comportamento. É mais uma espécie de encenação.
Um conflito real é bastante diferente. O choro é inconsolável, os olhos da criança demonstram dor e tristeza, prova de que há um conteúdo a ser trazido à tona, um problema a ser resolvido, uma dor que precisa ser tratada.
Nesses casos, algumas atitudes são essenciais:
- Comece revisando o ambiente em que a criança está vivendo: conflitos entre os pais, gritos, nervos à flor da pele. Tudo isso pode contaminar o ambiente infantil e levar a conflitos internos e/ou externos da criança.
- Revise as atitudes dos adultos que se relacionam com a criança: impaciência na forma de falar, cuidados físicos feitos apressadamente, gestos bruscos, são recebidos como violência pela criança e cobrarão seu preço mais tarde, na forma de comportamentos conflitivos.
- Revise os espaços físicos da criança. Às vezes os espaços não oferecem os estímulos e desafios necessários para o saudável desenvolvimento infantil e a criança manifestará seu descontentamento também com comportamentos desagradáveis.
Por fim, algo mais do que importante: comportamentos de oposição
Há ainda um outro tipo de comportamentos que geram conflitos entre adultos e crianças, e que também podem equivocadamente ser confundidos com birras da infância.
São os comportamentos de oposição. O que isso significa? Entre 2 e 3 anos de idade, a criança ingressa em uma nova e importante fase de sua vida, em que começa a desenvolver o seu próprio eu.
Esse processo de individualização é fundamental e bastante difícil para a criança. Por isso é necessário que os pais colaborem com ela.
Nesse contexto, algo comum são os chamados comportamentos de oposição. A criança irá se opor ao adulto para se diferenciar dele.
Em resumo: quando você disser não, a criança dirá sim! E quando você resolver ceder para o sim, a criança mudará para o não!
Como colaborar nesses casos?
- Tenha paciência, acima de tudo.
- Saiba trabalhar bem com limites. Quanto mais claros estiverem os limites, mais fácil e rapidamente a criança passará pela transição que essa fase de sua vida representa.
- Dê espaço para que a criança faça e decida coisas por si mesma. Naturalmente você precisará criar condições para isso. Por exemplo: você não permitirá a ela decidir pôr agasalho ou não em um dia de muito frio. Mas dentre os agasalhos adequados que você escolheu, permita a ela decidir qual ela quer usar naquele dia!
Para finalizar
Como vimos, muitos dos problemas que temos com nossos filhos devem-se ao desconhecimento de temas básicos sobre a infância. Quando isso acontece, criamos atritos e desentendimentos que se estendem por meses e até anos, sem necessidade.
Por isso, procure refletir sobre esses temas. Saiba reconhecer as birras da infância e os conflitos reais, pois assim você não apenas evitará problemas maiores, mas poderá ser uma presença marcante no processo de apoio que seu filho precisa para se desenvolver e vencer as dificuldades de cada etapa de sua vida.
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Diretor do Colégio Acadêmico Florença, Doutor em Educação e pesquisador da infância há quase 15 anos. Segue conduzindo seus estudos e pesquisas aliados a uma profunda experiência prática em contato direto com as crianças e educadores. Autor dos livros Pedagogia Florença 1 – bases para educação infantil de 0 a 3 anos e O Lenhador.