Confira a Entrevista sobre Educação para Bebês, exibida no Programa Bom dia SC, em 2011.
Educar uma criança é um ato fascinante e que ao mesmo tempo gera inúmeras preocupações.
Rafael, eu que sou mãe, sei bem que não é fácil, os pais sempre têm receio de não estar fazendo o melhor.
Eu ainda não tenho essa experiência, ainda, mas sei que alguns pais cedem sim à tradição familiar, outros procuram métodos novos para educar os filhos da melhor maneira possível.
E é sobre um desses métodos, que ainda é desconhecido no Brasil que o Bom Dia conversa agora. O método Pikler foi criado e desenvolvido na Hungria por uma pediatra que no período pós-Segunda Guerra dedicou a vida ao trabalho com bebês e crianças pequenas.
O doutor e pesquisador em educação, Roger Hansen, aplica esses princípios e está em Florianópolis, mora em Florianópolis, e ministra aqui em Florianópolis, na capital do estado, um workshop gratuito.
Obrigado pela presença, um bom dia. Primeiramente a gente gostaria de saber, Método Pikler, que método é esse, como é que ele funciona, de que maneira ele é aplicado?
Bom dia, obrigado pela oportunidade de estar aqui com vocês.
O método Pikler, ele vem justamente do nome dessa pesquisadora chamada Emmi Pikler que no período pós-guerra fez um trabalho fascinante que fez um virada mesmo na página da educação infantil mundial.
Ela começou a trabalhar com crianças que estavam órfãs ou vítimas de maus tratos no período pós-guerra, os pais haviam sofrido situações terríveis mesmo.
E se tinha um fato dado: que essas crianças, que eram crianças criadas fora do seio familiar, eram crianças problemáticas e certamente seriam adultos com problemas e com prejuízos em relação às crianças que eram educadas dentro das suas famílias.
E um grupo de cientistas na época começou a estudar isso e se interessar por essa questão e percebeu de repente um grupo de crianças que havia sido educada fora do seio familiar, inclusive crianças que os pais haviam falecido, e eram crianças com o desenvolvimento tão bom ou até superior às crianças educadas pelos pais.
E o resultado é que eles foram investigar de onde vinham essas crianças e todas vinham do Instituto Loczy, que era o instituto da rua Loczy, da Emmi Pikler.
E qual que era a diferença nessa educação, nesse cuidado com essas crianças que fizeram essa diferença na vida delas?
Exatamente, a diferença é justamente essa, porque se tinha um fato dado que era o fato das crianças não serem educadas pelos pais.
E a Emmi Pikler constatou que era uma diferença justamente no tratamento e no relacionamento com os bebês e com as crianças que fazia toda a diferença.
Então os momentos de cuidados íntimos com as crianças, o carinho, a forma de pegar a criança no colo, a forma de tocar o corpo da criança, de fazer com que a criança tomasse consciência do próprio corpo e de si mesmo, fazia com que a criança se tornasse um adulto muito superior em termos de desenvolvimento dos seus potenciais.
Na verdade, Roger, uma educação baseada em cima de um fato, no caso, que é a ausência dos pais na criação dos filhos.
Exatamente, uma ausência muito difícil. E a Emmi Pikler conseguiu fazer com que isso fosse superado a partir desses cuidados extremamente atenciosos aos detalhes do desenvolvimento da criança.
Então uma observação muito atenta ao desenvolvimento do caminhar, ao desenvolvimento dos primeiros movimentos das crianças, que no início eram tratadas de uma forma muito ruim pelas pessoas que eram os cuidadores dessas crianças nas creches e orfanatos da época.
Então ela implementou todo um método, uma forma de treinar essas cuidadoras que mudou para sempre a vida dessas crianças, depois isso se tornou um modelo mundial que até hoje na Europa não se pensa em outra coisa que não “a forma Pikler”, o modelo Pikler de Educação Infantil.
Uma coisa que por incrível que pareça nem chegou do Brasil praticamente.
Mas os pais podem aplicar esse método, não quer dizer que os pais não estejam presentes. Os pais podem ser um problema muitas vezes, né, isso é provado que podem ser um problema na educação, até no futuro de uma pessoa.
Com certeza, porque uma das coisas incríveis que Emmi Pikler descobriu é que o que se promove uma série de violências suaves, um termo que como educador me assusta muito, porque essas violências elas são…
E às vezes nem são perceptíveis…
Exatamente, justamente por essa questão.
E sem intenção muitas vezes também.
E sem intenção.
Como por exemplo?
Como por exemplo o fato da criança receber a mão no seu nariz ou no seu corpo sem ela ser avisada por isso. E se nós pensamos nisso como adultos nós percebemos que há algo estranho, alguém toca em meu corpo sem me avisar. Mas fazemos isso com as crianças.
E Emmi Pikler parou isso e nos conscientizou de uma coisa: cuidado, os bebês já são seres humanos também. E nós falamos isso verbalmente, mas não temos consciência disso na prática no momento de lidar com a criança, com o seu corpo e com a vida dessa criança que já é um ser humano.
Roger, e por outro lado, o cuidado excessivo também pode atrapalhar, né, a gente falou em autonomia, que o método incentiva um pouquinho as crianças já serem autônomas para serem mais felizes no futuro. Como é que trabalha isso?
Exatamente. A gente considera que os bebês são capazes de muito poucas coisas. Quando na verdade, os bebês têm muitas potencialidades, por exemplo, um bebê ele pode se deslocar engatinhando ou até rastejando quando ele nem sabe engatinhar para pegar um objeto.
E nós, adultos, pensamos, bom, coitado desse bebê, vou ter que pegá-lo no colo para levar até esse objeto.
Mas ele já é autônomo para fazer isso, ele só não faz da mesma maneira que nós adultos.
Mas ele já pode fazer isso sozinho. E qual a diferença? A diferença é que fazendo sozinho a conquista é dele. Ele percebe, eu fiz, eu venci. E essa sensação de vitória cria aquilo que Emmi Pikler chama de uma pele psicológica na criança. Que é uma estrutura que organiza todo esse potencial de autoconfiança, de autoestima, que vai perdurar por toda a vida desse ser humano.
E aquele princípio, aquela máxima que vale então desde que a criança é realmente muito pequena, de que você aconselha, você orienta, mas a experiência só adquire mesmo vivendo, batendo a cabeça, vivendo aquela experiência para depois pensar duas vezes antes de viver novamente. Mais ou menos isso?
Exatamente, são esses velhos ditados populares que têm bons fundos de verdade, que é você não entregar o peixe, mas ensinar a pescar.
Segundo o psicólogo Paul Bloom, os bebês já fazem escolhas morais. Confira aqui a entrevista com o pesquisador.