A PEDAGOGIA FLORENÇA
O título deste tópico poderia talvez ser substituído por outro mais usual. Algo que remetesse a uma resposta à pergunta: “O que fazemos com nossas crianças?”. Essa é uma das questões mais comuns quando os pais procuram uma escola para os filhos.
Querem saber quais são as atividades pedagógicas, o programa educacional organizado com tarefas, exercícios, estímulos que são conduzidos dentro de certo período de tempo para ensinar às crianças aquilo que supostamente precisam aprender.
Tal postura reflete toda uma concepção educacional instalada no ocidente a partir do século XVIII, basicamente ativista e fundamentada na racionalidade utilitarista, que é própria do momento histórico que tem suas raízes nesse período e que floresce vivamente em nossos dias. Trata-se basicamente de uma proposta de transmitir conteúdos, por mais simplificados que sejam, para o nível da educação infantil, de forma que o ser humano os absorva e pouco a pouco se torne capaz de desempenhar tarefas com base nesses aprendizados.
Podemos tomar como exemplo a cena, comum em muitas instituições de educação infantil, da criança pequena que é logo apresentada a materiais de pintura e conduzida a fazer seus primeiros rabiscos com giz de cera ou tinta. Supostamente ela estará educando suas habilidades para expressar-se bem e cada vez melhor na medida em que cresce, com estímulos constantes e progressivos, que pouco a pouco lhe permitirão um desempenho melhor.
Porém, as nossas perguntas na Pedagogia Florença são: “Quem é essa criança que se expressa? Quem é esse Ser? E o que está expressando?”. Sobre o Ser não temos respostas, porque também não temos perguntas.
Trata-se de uma questão que não está colocada hoje pela pedagogia, de forma geral. Contudo, sobre o que o Ser expressa, aí temos uma expectativa mais clara: queremos ver o retorno do que plantamos ao longo do tempo. Em outras palavras, investimos a criança de conteúdos, e estes deverão ser mais tarde reproduzidos por ela.
Se observarmos com cuidado, perceberemos que caminhamos no sentido de uma programação da criança. E dessa forma seguimos com tantos outros conteúdos: estimulamos seu corpo para que se ponha em pé e logo caminhe; depois, para que coordene seus braços e suas mãos para escrever, e assim por diante.
Quanto mais rápido esses processos acontecem, mais cedo irá caminhar, mais rapidamente escreverá, e o quanto antes possível será alfabetizada e aprenderá os conteúdos do nosso contexto sócio educacional: matemática, idioma local, idiomas estrangeiros, disciplinas, tais como como história e geografia e outras mais.
De modo geral, não queremos tanto que domine uma cultura do mundo, mas que seja capaz de responder a questões específicas das matérias antes referenciadas para ingressar no ensino superior e, uma vez obtida sua formação acadêmica, que possa ter um status social adequado e, claro, um emprego que lhe possibilite o mínimo de subsistência básica e talvez um destaque econômico e material.
Esse é o caminho a ser seguido, e qualquer coisa que desvie a criança dele é vista como subversiva, estranha, alternativa demais. As pedagogias que fogem a esse padrão são todas linhas de trabalho que causam medo, porque significam sair do que está colocado socialmente não como lei, mas como norma social.
Transgredir uma norma não nos leva a punições oficiais como transgredir uma lei, mas nos inquieta, faz com que nos sintamos como peças fora do jogo social comum, e dificilmente essa situação é tolerada com tranquilidade. É mais fácil assumir que as coisas são assim.
Quanto à educação infantil especificamente, os pais temem que se perca tempo com seus filhos quando poderiam desde muito cedo iniciar a aprendizagem que necessitarão para cumprir os fins antes expostos e chegar com facilidade à universidade e ao mercado de trabalho.
A felicidade é tomada como um adorno que pode ser prorrogado, uma recompensa que poderá ser alcançada depois desses longos anos em que se faz o que tem que ser feito. Desviar-se disso é traçar um caminho impreciso que não irá garantir aprendizagem, que não assegurará a qualidade de ensino necessária e que conduzirá a um destino incerto.
Não podemos descartar as situações em que esses temores se justificam, com propostas julgadas alternativas, mas que carecem de um conhecimento adequado da criança pequena e da educação infantil, e acabam criando um programa que rompe com o modelo que acabamos de expor, mas que, em troca, não oferece nada melhor.
Feita essa ressalva, não podemos concordar com a forma utilitarista de pensar a educação e a pedagogia infantil. Não apenas porque pensamos de outra forma, mas porque temos motivos sólidos para isso.
Em primeiro lugar, quando falamos do que fazer e do que não fazer com a criança pequena, não se trata de uma escolha ou opção arbitrária. Partimos de uma concepção do desenvolvimento do ser humano. É essa concepção que pretendemos expor – ao menos em linhas gerais – em seguida e tomá-la como um ponto de partida fundamental.
Este conteúdo é um trecho do livro Pedagogia Florença I: bases para a educação infantil de 0 a 3 anos é por Direitos Autorais. Para compartilhar esse conteúdo, utilize o link www.colegioflorenca.com.br/blog/livro-pedagogia-florenca ou as ferramentas de compartilhamento oferecidas na página.